DNA / 22-10-2024
A Influência dos Genes na Felicidade: Descobrindo a Ligação entre a Genética e o Bem-Estar
Introdução
A busca pela felicidade é uma atividade constante na vida humana, e entender os fatores que influenciam nosso estado de bem-estar é um campo de estudo fascinante. Nos últimos anos, pesquisadores têm explorado a conexão entre a genética e a felicidade, revelando que nossos genes podem desempenhar um papel importante nesse aspecto fundamental de nossas vidas. Nesta matéria, vamos explorar estudos recentes que abordam a influência dos genes na felicidade, trazendo exemplos e novidades para entendermos melhor essa relação complexa.
O Genótipo da Felicidade
Desde o nascimento, nossos genes desempenham um papel na formação de nossa personalidade, emoções e respostas emocionais. Estudos genéticos têm revelado que certas variações genéticas podem estar associadas a níveis diferentes de felicidade. Por exemplo, pesquisadores identificaram uma região polimórfica no gene SLC6A4 denominada 5-HTTLPR, relacionado à regulação da serotonina, um neurotransmissor associado ao bem-estar. Variações nesse gene podem influenciar a maneira como reagimos às situações emocionais, afetando nossa tendência à felicidade [1].
Um estudo recente, conduzido por pesquisadores da Universidade de Essex, no Reino Unido, analisou mais de 12.000 indivíduos e descobriu que aqueles com uma variação específica desse gene tinham uma probabilidade maior de relatar altos níveis de felicidade. Essa descoberta sugere que nossos genes podem predispor certas pessoas a serem naturalmente mais propensas à felicidade, independentemente das circunstâncias externas [1].
Ambiente e Genes: Uma equação complexa
Enquanto a genética desempenha um papel importante na felicidade, é essencial ressaltar que o ambiente em que vivemos também exerce uma influência significativa. Estudos de gêmeos têm sido fundamentais para explorar essa relação complexa. Pesquisas com gêmeos idênticos sugerem que características como bem-estar e satisfação com a vida são influenciados por fatores genéticos com herdabilidade na faixa de 30-40% [2].
Esse número sugere que a genética pode estabelecer uma base para nossa tendência à felicidade, mas o ambiente ainda pode moldar nossa experiência emocional. Fatores como relacionamentos interpessoais, suporte social, estilo de vida e experiências de vida desempenham um papel crucial na determinação de nosso bem-estar [2].
A genética influencia a felicidade ou a felicidade influencia na genética?
De uma forma bem interessante, a influência entre felicidade e genes é recíproca. Da mesma forma que certos genes nos impulsionam a ser felizes, um humor positivo afeta a expressão de genes. Essa ideia foi publicada por um segundo um estudo da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA). Os autores postulam nesse estudo que a genética das células imunológicas e de genes relacionados à inflamação é mais "favorável” em indivíduos com altos níveis de bem-estar eudaimônico (um bem-estar relacionado com o propósito na vida). Isso sugere que ao sentir sentimentos relacionados a ter um propósito na vida, crescer, buscar atingir objetivos e desenvolver suas próprias habilidades, de alguma forma ainda não bem conhecida pela ciência, isso afeta os genes relacionados ao sistema imunológico e genes relacionados a inflamação do nosso corpo [3].
Somos então escravos da genética para ser felizes?
Embora a influência dos genes na felicidade seja um campo emocionante de pesquisa, é essencial destacar que a genética não é o único determinante de nossa felicidade. Nossas experiências de vida, nosso ambiente social e cultural, assim como, nossas escolhas e atitudes, desempenham papéis cruciais na busca pela felicidade. A genética pode criar uma predisposição, mas a maneira como vivemos e enfrentamos os desafios da vida também é fundamental [2,3].
Ainda falando sobre o estudo envolvendo gêmeos, os pesquisadores descobriram que a genética explicava apenas 30-40% das diferenças individuais na felicidade [2], outros artigos falam em 50% [4]. De qualquer forma, isso significa que a maior parte de nossa felicidade está sob a influência de fatores não genéticos, oferecendo um senso de esperança e empoderamento para aqueles que buscam aumentar seu bem-estar.
Então, o que podemos fazer para aumentar nossa felicidade?
Embora não possamos alterar nossa genética, podemos adotar estratégias baseadas em evidências para melhorar nosso bem-estar. Estudos mostram que fatores como exercício físico regular, sono adequado, alimentação saudável, prática de gratidão, conexões sociais positivas, ajudar o próximo e engajamento em atividades significativas estão associados a níveis mais altos de felicidade. Essas intervenções podem influenciar positivamente nosso cérebro, mesmo que tenhamos uma predisposição genética para a infelicidade [2, 3].
Em resumo, a influência dos genes na felicidade é um campo fascinante de estudo. Pesquisas recentes revelaram que nossos genes podem desempenhar um papel importante na forma como experimentamos a felicidade. No entanto, é essencial lembrar que a genética não é um destino fixo. Nossa felicidade é influenciada por uma interação complexa entre nossa genética, ambiente e escolhas individuais. Ao adotarmos estratégias para promover nosso bem-estar, podemos buscar uma vida mais feliz e satisfatória, independentemente de nossos genes. Afinal, a felicidade é um objetivo universal ao qual todos têm o direito de buscar.
Referências
1 – Fox E, Zougkou K, Ridgewell A, Garner K. The serotonin transporter gene alters sensitivity to attention bias modification: evidence for a plasticity gene. Biol Psychiatry. (2011) 1;70(11):1049-54.
2 – Røysamb, E., Nes, R.B., Czajkowski, N.O. et al. Genetics, personality and wellbeing. A twin study of traits, facets and life satisfaction. Sci Rep 8, 12298 (2018).
3 - Barbara L. Fredrickson, Karen M. Grewen, Kimberly A. Coffey. A functional genomic perspective on human well-being. Biological Sciences. (2013) 110 (33) 13684-13689.
4 - Shmotkin, D. Happiness in the Face of Adversity: Reformulating the Dynamic and Modular Bases of Subjective Well-Being. Review of General Psychology, (2005) 9(4), 291–325.