DNA / 29-10-2024
Testes genéticos: Mitos e verdades em relação à saúde da mulher
Nos últimos anos, os avanços na área da genética têm permitido um maior entendimento sobre a influência dos nossos genes na saúde. Testes genéticos, que analisam o DNA de uma pessoa em busca de marcadores genéticos associados a determinadas condições de saúde, têm se tornado cada vez mais populares. No entanto, junto com essa popularidade surgem também muitos mitos e equívocos. Nesta matéria, abordaremos os testes genéticos mais recentes relacionados à saúde, fique até o final para entender melhor como eles podem te ajudar a ter uma vida mais saudável.
Testes genéticos voltados para a saúde da mulher e seus benefícios
Uma das principais áreas de interesse mundial atualmente é a prevenção do câncer e alguns testes genéticos podem fornecer informações valiosas sobre o risco individual de desenvolver essas doenças. Em especial vamos citar aqui, o câncer de mama e o câncer de ovário, sendo que nas mulheres, o câncer de mama é o mais incidente (depois do de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. (Segundo o Instituto Nacional de Câncer) [1]. O teste genético que identifica o risco de desenvolver esses dois tipos de câncer ficou em evidência depois da atriz Angelina Jolie realizá-lo e descobrir que tinha 87% de chances de desenvolver um câncer de mama, e 50% de ter um câncer no ovário. O gene BRCA1 e BRCA2 é conhecido por estar associado a um maior risco de câncer de mama e ovário. Mulheres com mutações nessas regiões do DNA têm um risco significativamente maior de desenvolver esses tipos de câncer. Os testes genéticos podem identificar essas mutações e permitir que medidas preventivas sejam tomadas, como exames de triagem mais frequentes ou até mesmo cirurgias profiláticas. Foi o caso de Angelina Jolie, ela optou pela dupla mastectomia preventiva, uma cirurgia para retirada dos seios, o que diminuiu sua chance de desenvolver este tipo de câncer para 5% [2].
Além do câncer, os testes genéticos também podem revelar informações sobre outras condições de saúde que afetam as mulheres. Um exemplo é a predisposição genética para a osteoporose, uma doença que afeta principalmente mulheres na pós-menopausa. Determinados genes estão associados a um risco aumentado de desenvolver osteoporose. Ao identificar essas predisposições genéticas, medidas preventivas, como a adoção de uma dieta equilibrada e a prática regular de exercícios, podem ser adotadas para reduzir o risco de desenvolver a doença [3].
Outra área de interesse é a saúde cardiovascular. Estudos recentes têm mostrado que certas variantes genéticas estão associadas a um maior risco de doenças cardíacas, como o infarto do miocárdio e o acidente vascular cerebral. Através de testes genéticos, é possível identificar se uma pessoa possui essas variantes e, assim, adotar medidas preventivas, como a adoção de um estilo de vida saudável e a realização de exames médicos regulares para monitorar a saúde do coração [4].
Citamos aqui 3 grandes exemplos de testes genéticos voltados para a saúde da mulher, entretanto, atualmente existe uma vasta gama de opções, desde testes que informam sobre a predisposição a características relacionadas à pele, atividades físicas, humor, personalidade, alimentação e muito mais.
Os testes genéticos desempenham um papel crucial na prevenção de doenças, mas além disso também no auxílio à melhoria da qualidade de vida, pois fornecem informações personalizadas sobre a predisposição genética de um indivíduo a certas condições de saúde. Essas informações podem permitir intervenções precoces e estratégias de prevenção direcionadas, permitindo que as pessoas adotem medidas proativas para reduzir os riscos. Ao conhecerem suas predisposições genéticas, os indivíduos podem fazer escolhas informadas sobre seu estilo de vida, incluindo hábitos alimentares, atividade física e gerenciamento do estresse, além de procurar exames médicos regulares e aconselhamento genético. Com base nos resultados do teste genético, os profissionais de saúde podem desenvolver planos de cuidados personalizados, adaptados às necessidades específicas de cada pessoa, promovendo uma abordagem mais precisa e efetiva para a prevenção e promoção da saúde. Assim, os testes genéticos desempenham um papel fundamental como ferramentas auxiliares no cuidado da saúde, capacitando os indivíduos a tomar medidas proativas e melhorar sua qualidade de vida [5].
Limitações e mitos sobre os testes genéticos
No entanto, é importante ressaltar que os testes genéticos têm suas limitações e que a interpretação dos resultados deve ser feita com cautela. Muitas vezes, os testes genéticos fornecem informações sobre predisposições genéticas, ou seja, sobre a probabilidade estatística de uma pessoa desenvolver uma determinada condição de saúde. Essas informações não são preditivas, ou seja, não podem prever com certeza se uma pessoa desenvolverá ou não uma doença. Além disso, é fundamental destacar que nem todas as informações obtidas têm ações preventivas ou tratamentos específicos. Nesse caso, a presença de uma variante genética associada a um risco aumentado de desenvolver uma doença pode gerar ansiedade e estresse desnecessários se não houver opções de prevenção ou tratamento eficazes. Portanto, é importante ter um acompanhamento médico adequado para a interpretação correta dos resultados e a implementação de estratégias de saúde apropriadas [5,6].
Além disso, a genética não é o único fator determinante para a saúde. Outros fatores, como estilo de vida e ambiente, também desempenham um papel importante na determinação do risco individual de desenvolvimento de doenças. É essencial lembrar que os testes genéticos são apenas uma ferramenta adicional para ajudar na compreensão da saúde individual e na tomada de decisões relacionadas à prevenção e cuidados. O aconselhamento genético é fundamental para auxiliar na interpretação dos resultados e fornecer orientações adequadas [7].
Imagine a seguinte situação: Duas irmãs gêmeas idênticas (ou seja, que apresentam os mesmos genes), onde uma delas se preocupa em manter hábitos saudáveis, se alimenta bem, faz exercícios físicos e bebe uma quantidade adequada de água diariamente, a outra, entretanto tem hábitos que prejudicam sua saúde. Nesse caso, mesmo que as duas não tenham predisposições para desenvolver determinadas doenças, a gêmea que tem hábitos saudáveis pode ter menos chances de desenvolver certas doenças do que a gêmea que não tem hábitos saudáveis.
Ou seja, devemos ter um cuidado em afirmar que a predisposição genética é fator determinante para o desenvolvimento de certas doenças, a qualidade de vida e o ambiente fazem parte dessa equação e devem ser levados em consideração sempre [5, 7].
Outro aspecto importante a ser considerado é a questão da privacidade e confidencialidade dos dados genéticos. Os testes genéticos envolvem a coleta e análise do DNA de uma pessoa, o que pode fornecer informações muito sensíveis. É crucial escolher laboratórios ou empresas respeitáveis, que tenham políticas claras de proteção de dados e privacidade. Antes de realizar um teste genético, é importante pesquisar e obter informações sobre a reputação e credibilidade da instituição ou empresa responsável pelo teste [8].
É válido ressaltar que os testes genéticos não são destinados a substituir consultas médicas regulares. A genética é apenas uma parte do quadro completo de saúde de uma pessoa. Consultas médicas rotineiras, exames de triagem e a adoção de um estilo de vida saudável continuam sendo fundamentais para a prevenção e manutenção da saúde, independentemente dos resultados dos testes genéticos [7].
Conclusão
Em conclusão, os testes genéticos oferecem oportunidades promissoras no campo da saúde, fornecendo informações valiosas sobre predisposições genéticas a certas condições. Nesta matéria focamos no público feminino, onde os testes genéticos podem oferecer insights sobre o risco de câncer, saúde cardiovascular, osteoporose e outras condições relevantes da saúde feminina. No entanto, é essencial abordar essas informações com cautela, compreendendo suas limitações e buscando orientação médica especializada para uma interpretação correta e um plano de cuidados personalizado. Os testes genéticos devem ser encarados como uma ferramenta complementar ao cuidado médico, auxiliando na prevenção e tomada de decisões relacionadas à saúde, mas não como um diagnóstico definitivo ou único indicador de saúde.
Referências
1 – Estimativa 2023. Incidência de câncer no Brasil – INCA (Instituto Nacional de Câncer). Disponível em: https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf
2 – Globo.com. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2013/05/com-receio-de-cancer-angelina-jolie-retira-os-seios.html
3 – Mäkitie RE, Costantini A, Kämpe A, Alm JJ, Mäkitie O. New Insights Into Monogenic Causes of Osteoporosis. Front Endocrinol (Lausanne). 2019.
4 – Karla P . et al. Polymorphism related to cardiovascular risk in hemodialysis subjects: a systematic review. Braz. J. Nephrol. (J. Bras. Nefrol.), 2018;40(2):179-192.
5 – Dhawi F, Alotaibi FSGenetic screening for quality-of-life improvement and post–genetic testing consideration in Saudi ArabiaFamily Medicine and Community Health 2018.
6 – World Federation of Neurology: Research Committee. Research Group on Huntington's chorea. Ethical issues policy statement on Huntington's disease molecular genetics predictive test. J Neurol Sci. 1989.
7 – Charles Birch and Paul Abrecht. Genetics and the Quality of Life. 1975.
8 – Wan, Z., Hazel, J.W., Clayton, E.W. et al. Sociotechnical safeguards for genomic data privacy. Nat Rev Genet 23, 429–445 (2022).